Se uma petropolitana numa noite de inverno
Se coloco as luvas, não cnsigo digi9tar direiot. Se tiro, os dedos gelam de um jeito que as articulações parecem até encabuladas. Disse o ClimaTempo que ficaria entre 5ºC e 17ºC, mas eu não acredito em nenhuma temperatura com mais de um dígito hoje.
No geral, o apê nem é frio, acho. Passei a presumir isso porque dormi ontem com um só edredon e depois ouvi relatos de gente que pensou em virar a noite abraçado no aquecedor. Mas o quarto do computador fica aqui do lado onde não bate sol nunca e de onde vem o vento encanado, rua acima. Daqui tem vista para a torre de transmissão de TV perto da Paulista, aquela que segundo o "Fantástico" está 80 m acima do permitido, na rota de aviões, embora eu não me recorde de aeronaves passeando por aquelas cercanias. O máximo que consigo conjecturar é que deve ser ainda mais frio lá do que é aqui.
Foi essa a média de temperatura que conheci dos 0 aos 17 _antes de me mudar praquela capital em que a gente sai do banho sem saber o que ainda é vapor e o que já é suor_ e com que voltei a conviver ao me instalar aqui, faz oito invernos. Só que na serra o ar pelo menos tinha a coerência de ficar quieto. Nos meus primeiros tempos por aqui, a analogia para o vento de julho eram lâminas cortando a pele, várias delas, uma depois da outra. (Hoje a comparação me faz lembrar da minha mãe, para quem cereja tem gosto de formiga. Como é que a gente sabe o gosto de formiga ou a dor de várias lâminas na pele para poder comparar?). É que não era só frio como em Petrópolis; em São Paulo, o ar frio vem em carreirinha, um monte de tapas na cara.
Ao falar disso agora, na (assim batizada por mim) noite mais gelada do ano, tenho a impressão de que, um pouco que seja, a gente acaba se habituando. O frio ainda dói um bocado, mas não corta mais.
Ou talvez seja mais fácil aceitá-lo com a perspectiva de um abraço.
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