confissões de uma mente sem lembranças
(ou brilho eterno de uma mente perigosa)

quarta-feira, setembro 19, 2007

a.iPod / d.iPod

A melhor gracinha pop que li no último ano está na HQ que conta a vida pré e pós-primeiro vinil de Angeli. Já tiozinho, compacto dos Stones debaixo do braço, ele entra numa loja de música e descobre que aquelas coisas na parede são algo chamado virtual music card, cartões que, passados num leitor óptico, enviam informações a um satélite que manda pro computador todas as músicas contidas neles.

"Satisfaction cabe aqui?", duvida o cartunista, examinando o minúsculo cartão contra a luz. "Satisfaction não cabe aqui!", conclui.

Não tenho vinis em casa desde que vim pra São Paulo, mas meu dinossauro interior reagiu mais ou menos assim da primeira vez que fui pra rua com quatro dias de música dentro do iPod. Estou com ele faz um mês (houve um vexaminoso intervalo de 2.125 dias entre o lançamento do bichinho e a chegada do meu), e dia desses me peguei segurando a bolsa com mais força contra o corpo ao correr da linha azul para a vermelha do metrô. Vício herdado da conturbada convivência com um discman temperamental, pra música não pular.

Não dá para falar em desvantagens aqui. No iPod cabe tanta coisa que nunca consegui chegar até Satisfaction, embora eu saiba que está lá.

Mas, se é para falar em saudosismo, no sentido romântico da palavra, existe um símbolo pré-iPod cujo substituto eu desconheço, que é o CD gravado em casa. Que é algo praticamente de ontem, e no entanto é velho, tem um ar 2001 ou 2002, ou alguma-coisa-muito-antes-disso para os seis bilhões de indivíduos que são mais antenados que eu.

O CD gravado em casa foi sinônimo de uma época em que uma boa idéia, um pouco de paciência para garimpar músicas e quaisquer poucos reais no bolso bastavam para agradar alguém. Quase não dava trabalho e surtia o efeito "foi feito pra mim", o que, com sorte, garantia a quem gravou o CD uma espécie de co-autoria das canções na lembrança do(a) destinatário(a). Era um agrado com assinatura.

Não deve ter existido outra época em que tenha sido tão fácil conquistar como nos anos em que bacana era descobrir músicas que não se achava por aí e mandar um CD gravado em casa. Mas passou tão rápido que os sentimentais sempre vão valorizar mais aquelas ásperas e arranhadas décadas do vinil. Em tempos de iPod, para os românticos o que restam são flores. Como nos tempos de Satisfaction, aliás.

6 Comments:

Blogger Fernando Cesarotti said...

O CD gravado em casa é como o fax, um negócio que veio para suceder as fitinhas à la "Alta Fidelidade" e hoje, realmente, parece que já foi. E o discman era um negócio tão pouco prático que é inacreditável de ter existido: as pilhas não duravam nada, a música pulava o tempo...

19/9/07 2:26 PM

 
Blogger raq c. said...

é, é uma evolução das fitinhas. só que, nas fitas, as músicas ficavam restritas aos discos de casa ou a eventuais gravações de rádio, com a vinheta aparecendo no começo ou no fim. no CD, tinha o lado de garimpar músicas que fazia a diferença... como um CD com músicas do arcade fire quando arcade nem tinha saído por aqui..

19/9/07 4:23 PM

 
Blogger Fernando Brito said...

Eu acho que o CD gravado pra outra pessoa ainda tá valendo. É tecnologia ultrapassada, beleza, mas não tem muita graça "presentear" alguém com uma dúzia de arquivos MP3 enviados pelo email...

21/9/07 9:08 PM

 
Blogger Olheiro da Desgraça said...

Eu ainda gravo CD. Mas no formato MP3.

22/9/07 9:35 PM

 
Anonymous Anônimo said...

O meu dinossauro científico ainda não compreende o Fonógrafo de Thomas Edson, mas tenho me divertido em garimpar músicas e gravá-las em cds... se eles conseguiram fazer isso, excelente.. Não entrei ainda na era I Pod.
Angeli é mestre!!!

26/9/07 5:37 PM

 
Blogger Ilis said...

e eu ainda gravo cds!
no formato cd mesmo.
;)
no último natal, dei um de presente para cada menina da editoria.
fazer o quê, eu sou nostálgica.
;)
beijo!!!!

26/9/07 10:54 PM

 

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