confissões de uma mente sem lembranças
(ou brilho eterno de uma mente perigosa)

quarta-feira, setembro 12, 2007

(Inter)ação e reação

Artes eletrônicas estão na moda; eu não estou. Confirmei isso no domingo, entre o almoço na Vila e o filme na Reserva. O punhado de horas ociosas nos empurrou até a Casa das Rosas para ver se algum móvel caríssimo da exposição de design nos inspirava a pensar em cópias baratas, mas achamos muito caro gastar R$ 30 cada um só para eventualmente economizar milhares de reais depois.

Daí tropeçamos na mostra gratuita de dez anos de tecnoarte do Itaú Cultural. "Second Life, esses são tiozinhos que passeiam pela Paulista; tiozinhos que passeiam pela Paulista, isto é o Second Life". Tinha uma obra, cujo nome não decorei (claro), que resumia bem. As pessoas deitavam num pufe, olhavam para cima e viam palavras iluminadas se transformarem ao percorrer um círculo preto no alto: "pai" e "filho"; "alto" e "baixo"; "grande" e "pequeno".

"Grande" e "bosta", pensei.

Nas obras que pediam interação mais ativa percebi minha incompatibilidade com a evolução da sociedade. Desça a escada imaginária de Regina Silveira, faça as cordas musicais vibrarem. A gente é educado a vida inteira a não tocar em obras de arte e de repente vê crianças caminhando por cima delas, e, pior, percebe que as crianças estão certas. Fui tentar uma idéia com as cordas. "Olha, não precisa encostar na tela; tem sensor, pode só aproximar a mão", disse a funcionária sorridente e constrangida. Eu, errada, de novo.

Apreendido o recado "interaja, mas não tanto", descambamos pro festival de arte eletrônica no Sesi, com os minutos contados para ver o filme. Na falta de tempo para explorar melhor, não creio que nada tenha me afligido mais que uma espécie de broa enorme, meio úmida, que não atraía ninguém, porque as pessoas preferiam ficar numa fila para discar números de telefone imaginários ou ouvir a própria voz num megafone retroativo. Chegamos perto e a broa não reagiu. Uma massa amorfa.

Fui descobrir mais tarde, lendo o programa, que ela suaria e gemeria se fosse tocada. Soube também que quanto mais eu tivesse explorado duas páginas de livro desencontradas numa parede escondida mais me seria revelado _elas não tinham esboçado a menor reação às minhas tímidas tentativas. Então, naquele caso, a mensagem certa era "interaja, e muito, ou você não saberá nada".

A tendência nas artes digitais é a gente nunca saber qual é a tendência.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Este vanguardismo dessas artes plásticas me deixam doidos!! Dalí e Picasso era mais esquisitos para mim... é e nem tocava nas obras, a não ser para mudar os quadros aqui de casa, coisa comum! hehehe

14/9/07 8:52 PM

 
Blogger raq c. said...

só toma cuidado pros quadros não te morderem.:-P

15/9/07 8:20 PM

 
Blogger Fernando Cesarotti said...

Putz, eu sou um defensor da tecnologia, e ao mesmo tempo um completo analfabeto nas "novas tendências", pelo menos no tal do second life, afinal a first life já dá trabalho à vera.

17/9/07 9:42 AM

 
Blogger raq c. said...

sobre o second life, e por falar em first life, eu concordo com esse site aqui, velhinho:
www.getafirstlife.com

17/9/07 11:06 AM

 
Blogger Fernando Cesarotti said...

Genial. O melhor é o slogan "Desculpe".

Estou na Agência Estado desde o começo do ano. Contratado, acredite. E tu?

18/9/07 4:14 PM

 
Blogger raq c. said...

na folha, desde maio do ano passado, respeitando a lei do eterno retorno..

19/9/07 2:05 PM

 

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