confissões de uma mente sem lembranças
(ou brilho eterno de uma mente perigosa)

sexta-feira, junho 15, 2007

(Des)confinamento

"Eu sou um escritor de rascunhos terríveis. Preciso de tempo para reescrever, enquanto outros, você sabe, [Allen] Ginsberg ou [Jack] Kerouac, podiam criar de uma só vez algo cheio de originalidade e energia. Eu não sou assim. Ser confinado aos meus primeiros rascunhos e ter de lidar com eles é muito difícil."

Isso quem me disse, enquanto relevava os erros do meu inglês ruim, foi Rick Moody, autor de "Tempestade de Gelo (que não à toa remete ao filme de Ang Lee), numa conversa que se acomodou entre outras tantas na minha gaveta virtual de idéias que não saem do papel. Ou que, pensando bem, não chegam até ele.

Me lembrou dos cálculos que não consegui evoluir no dia em que alguém fez a graça de me contar que Cony escreveu o segundo romance dele em nove dias. Devia resultar de uma proporção de palavras por minuto tão indecente que interrompi a conta; insalubre saber quantas páginas pode ter uma droga (com todo o despeito) de um livro de nove dias. Mais saudável deduzir que seja só um conto metido a besta, tipo o último romance magrinho do Paul Auster.

Moody contou que foi desafiado mais de uma vez a criar algo de aproveitável em menos de 20 minutos. Fez lá seus textos e então, disse, escolheu não pensar mais neles, pela inevitabilidade de pobreza literária em tais circunstâncias. Embora reconheça que os vestígios do crime sejam facilmente acessíveis em tempos de campos de busca. Eu desconfio de um erro de continuidade nesse racionício _um perfeccionista capaz de dar de ombros_, mas faz sentido tanto menos importarem os resultados quanto maior for a exigência do fluxo criativo.

Numa lógica dessas, escrever num espaço público, ainda que aconchegado pelo esquecimento, tem uma razão que justifica o masoquismo. Tentarei não pensar nisso.