confissões de uma mente sem lembranças
(ou brilho eterno de uma mente perigosa)

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Exercício de sinceridade

Resolveram pôr minha cara na página de colaboradores de uma revista esportiva para a qual faço um frila de revisão. Não chega a ser um problema. Mas pode ser considerado assim o pedido que veio junto: escrever cinco linhas em terceira pessoa sobre minha relação com os esportes. Na base da sinceridade, renderia muito mais:

"Raq fez balé quando era bem pequena, e foi a única vez que alguém lhe disse que levava jeito para a coisa. Talvez para garantir meses de mensalidade. Ela fez ginástica olímpica e parou porque não sabia descer em ponte. Fez capoeira e parou porque dava bolhas nos pés. Fez ginástica localizada e parou após se ver no espelho de quatro entre muitas velhas gordas de quatro. A última vez que Raq correu deve ter sido em algum jogo de queimada no primário. Levou uma bolada numa partida de handebol e nunca mais se meteu a besta. Ela não foi reprovada por faltas em educação física no colégio porque o professor era legal. Raq come porcarias, bebe um bocado, tem o colesterol preocupantemente alto para sua idade, fuma apesar da asma e não acredita que nada disso vá matá-la até que um check up lhe diga o contrário. Raq não faz check up. Em compensação, anda bastante porque odeia esperar ônibus. Pretende resolver isso em breve, quando comprar o carro. Raq sabe ler e pode corrigir vírgulas de quem escreve sobre esporte."

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Índio quer apito mas também sabe gritar

Não, não escolhi Toponímia Indígena. Faria isso se tivesse visão: foi passar os olhos para notar que as disciplinas pelas quais optei estavam nas pastas de inscrições mais gorduchas. Ei, são só cinco vagas por matéria, seus cobiçosos. Tive um ímpeto de boa competidora e calculei o risco de seqüestrar currículos da concorrência. Porque confio esse tanto nas minhas chances, e ninguém estava olhando, oras. Mas eu nunca soube mesmo jogar. Incluí idoneamente meus documentos e voltei para casa esmagada no ônibus entre uma janela e uma gorda.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Meandros lingüísticos

A gente se mata de estudar e de escrever para concluir uma disciplina e descobre que, no semestre seguinte, a única que se encaixa num horário viável é Toponímia Indígena.

domingo, janeiro 01, 2006

Bom dia, 2006

Uma vantagem de virar o ano em Tiradentes é que tem uma porção de igrejas nas redondezas. Entrar em cada uma delas pela primeira vez dá direito a três pedidos, disse alguém no passado, e eu acreditei. Com pouco a solicitar, bati na mesma tecla ao perambular pelos santuários. Bem, reza a estatística que inventei agora, para agradar aos otimistas, que um pedido feito nesta época tem 80% mais possibilidade de virar verdade. Ou seja, a época do ano mais a insistência no lugar certo me dão um saldo de chances. Isso é lógica pura.

Tiradentes tem detalhes pitorescos, como um balcão de armazém bicentenário, à venda por R$ 150 mil, que só caberia num ambiente construído especialmente para ele, e, adoro, uma fábrica de antiguidades. E o calçamento de pedras histórico que não é do século 18, mas de algo como 1950 _antes, o chão era irregular demais da conta, e acharam por bem dar um jeitinho. Claro que esse é o tipo de coisa que seria melhor não saber. A ignorância, disse alguém dia desses, é um lugar quentinho.

Depois de ganhar um ano novinho em folha, ouvi o Gil cantar que tudo, tudo, tudo vai dar pé, receita que a Jaque repetia há uma década. Acreditei, porque daquela vez deu pé, sim. E porque, disseram Almir e Teixeira anos atrás, hoje eu ando devagar porque já tive pressa.