confissões de uma mente sem lembranças
(ou brilho eterno de uma mente perigosa)

domingo, maio 04, 2008

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Comentei que estou em outro endereço?

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Pra não perder o costume da mudança virtual a cada dois anos.

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(é isso mesmo, sem link)

terça-feira, março 04, 2008

Ensaio sobre a solidão

Tire Garfield das tirinhas de Garfield, e conheça a mente insana de Jon Arbuckle.


Do Garfield minus Garfield.

quarta-feira, outubro 24, 2007

What do you do?

(Occupations, por Lars von Trier)

quarta-feira, setembro 19, 2007

a.iPod / d.iPod

A melhor gracinha pop que li no último ano está na HQ que conta a vida pré e pós-primeiro vinil de Angeli. Já tiozinho, compacto dos Stones debaixo do braço, ele entra numa loja de música e descobre que aquelas coisas na parede são algo chamado virtual music card, cartões que, passados num leitor óptico, enviam informações a um satélite que manda pro computador todas as músicas contidas neles.

"Satisfaction cabe aqui?", duvida o cartunista, examinando o minúsculo cartão contra a luz. "Satisfaction não cabe aqui!", conclui.

Não tenho vinis em casa desde que vim pra São Paulo, mas meu dinossauro interior reagiu mais ou menos assim da primeira vez que fui pra rua com quatro dias de música dentro do iPod. Estou com ele faz um mês (houve um vexaminoso intervalo de 2.125 dias entre o lançamento do bichinho e a chegada do meu), e dia desses me peguei segurando a bolsa com mais força contra o corpo ao correr da linha azul para a vermelha do metrô. Vício herdado da conturbada convivência com um discman temperamental, pra música não pular.

Não dá para falar em desvantagens aqui. No iPod cabe tanta coisa que nunca consegui chegar até Satisfaction, embora eu saiba que está lá.

Mas, se é para falar em saudosismo, no sentido romântico da palavra, existe um símbolo pré-iPod cujo substituto eu desconheço, que é o CD gravado em casa. Que é algo praticamente de ontem, e no entanto é velho, tem um ar 2001 ou 2002, ou alguma-coisa-muito-antes-disso para os seis bilhões de indivíduos que são mais antenados que eu.

O CD gravado em casa foi sinônimo de uma época em que uma boa idéia, um pouco de paciência para garimpar músicas e quaisquer poucos reais no bolso bastavam para agradar alguém. Quase não dava trabalho e surtia o efeito "foi feito pra mim", o que, com sorte, garantia a quem gravou o CD uma espécie de co-autoria das canções na lembrança do(a) destinatário(a). Era um agrado com assinatura.

Não deve ter existido outra época em que tenha sido tão fácil conquistar como nos anos em que bacana era descobrir músicas que não se achava por aí e mandar um CD gravado em casa. Mas passou tão rápido que os sentimentais sempre vão valorizar mais aquelas ásperas e arranhadas décadas do vinil. Em tempos de iPod, para os românticos o que restam são flores. Como nos tempos de Satisfaction, aliás.

quinta-feira, setembro 13, 2007

beba coca cola

beba coca cola
babe ....... cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
...... c.l.o.a.c.a

(1957, Décio Pignatari)

quarta-feira, setembro 12, 2007

(Inter)ação e reação

Artes eletrônicas estão na moda; eu não estou. Confirmei isso no domingo, entre o almoço na Vila e o filme na Reserva. O punhado de horas ociosas nos empurrou até a Casa das Rosas para ver se algum móvel caríssimo da exposição de design nos inspirava a pensar em cópias baratas, mas achamos muito caro gastar R$ 30 cada um só para eventualmente economizar milhares de reais depois.

Daí tropeçamos na mostra gratuita de dez anos de tecnoarte do Itaú Cultural. "Second Life, esses são tiozinhos que passeiam pela Paulista; tiozinhos que passeiam pela Paulista, isto é o Second Life". Tinha uma obra, cujo nome não decorei (claro), que resumia bem. As pessoas deitavam num pufe, olhavam para cima e viam palavras iluminadas se transformarem ao percorrer um círculo preto no alto: "pai" e "filho"; "alto" e "baixo"; "grande" e "pequeno".

"Grande" e "bosta", pensei.

Nas obras que pediam interação mais ativa percebi minha incompatibilidade com a evolução da sociedade. Desça a escada imaginária de Regina Silveira, faça as cordas musicais vibrarem. A gente é educado a vida inteira a não tocar em obras de arte e de repente vê crianças caminhando por cima delas, e, pior, percebe que as crianças estão certas. Fui tentar uma idéia com as cordas. "Olha, não precisa encostar na tela; tem sensor, pode só aproximar a mão", disse a funcionária sorridente e constrangida. Eu, errada, de novo.

Apreendido o recado "interaja, mas não tanto", descambamos pro festival de arte eletrônica no Sesi, com os minutos contados para ver o filme. Na falta de tempo para explorar melhor, não creio que nada tenha me afligido mais que uma espécie de broa enorme, meio úmida, que não atraía ninguém, porque as pessoas preferiam ficar numa fila para discar números de telefone imaginários ou ouvir a própria voz num megafone retroativo. Chegamos perto e a broa não reagiu. Uma massa amorfa.

Fui descobrir mais tarde, lendo o programa, que ela suaria e gemeria se fosse tocada. Soube também que quanto mais eu tivesse explorado duas páginas de livro desencontradas numa parede escondida mais me seria revelado _elas não tinham esboçado a menor reação às minhas tímidas tentativas. Então, naquele caso, a mensagem certa era "interaja, e muito, ou você não saberá nada".

A tendência nas artes digitais é a gente nunca saber qual é a tendência.

sábado, setembro 08, 2007

Construção

Dava para saber com horas de antecedência se vinha chuva. Um segredo milenar desconhecido da meteorologia: podíamos enxergar, a perder de vista, as nuvens se formando. Víamos também, longe, a praça do Relógio, e outras cujo nome ignoro esparramadas pela Vila Madalena, com a linha do trem entre uma e outras. No sol eu só reparava quando ele se punha, porque o céu enchia de cores. Não aquela coisa Blade Runner que cobria o Jaguaré, mas tonalidades que, dizíamos, dariam um belo pôster na parede quando a vista fosse embora.

É, a gente sabia desde o começo que era um cenário temporário. Estava escrito em letras subliminares no contrato; um desconto generoso para compensar a consciência de que, terminado o barulho da obra em frente, não teríamos mais meia cidade enquadrada nas janelas. Ainda assim, o lugar cabia no que queríamos, então assinamos embaixo e rubricamos todas as páginas de todas as vias para não deixar dúvida.

Mas ver um terreno baldio fermentar até virar arremedo de prédio é penoso quando ele fica na contramão entre você e o resto. Por meses, olhar pela janela foi calcular o que sobraria no campo de visão. Fiz projeções otimistas em que vislumbraria algo pelas laterais. Vesti causas trabalhistas e listei razões para uma greve operária. Vez ou outra pensei em ligar para a polícia, quando os batuques começavam num sábado de manhã cedo ou se estendiam pela noite, não (só) porque o barulho incomodasse, mas pela noção de que a evolução dele me roubaria a vista. Quis estudar leis de zoneamento e pedir o embargo da obra.

Não fiz nada disso. Porque, mesmo antes de praças e céu sumirem atrás de tijolos num desenho lógico, eu estava ocupada vendo a construção.

Faz uns meses que o sol não põe os pés na sala, e não me lembro de ter aproveitado quando ele alcançava uns metros cômodo adentro. Talvez a gata sinta falta, embora eu não esteja muito certa de que ela tenha memória para isso (também não estou certa de que ela se lembraria de mim caso eu ficasse umas semanas fora).

Hoje penso aqui com meu teclado que meus cálculos se acabaram no chão feito um pacote flácido. O prédio está exatamente como estaria caso eu não tivesse passado horas pensando em como evitar que ele estivesse ali. Mas, enquanto lá fora faz sol e a gata se espreguiça na sacada, enquanto a Roberta Sá canta que sua alegria voltou e ele lê jornal no sofá, numa sala que a despeito de tudo terá sempre um ar de sábado de manhã (tá, exceto à noite), eu posso fazer posts de auto-ajuda como este e ver tudo o que realmente importa.